A praia do acampamento meio sangue

- Nesses momentos eu nunca sei se desejo uma boa tarde ou uma boa noite... Então espero que esteja a ter um bom momento, é um momento molto lindo, deveras. Não tanto quanto a signorina, mas não acho que algo ou alguém possa almejar o ser.

Uma voz atrás de mim me tirou de meus pensamentos. E como estava um pouco concentrada, coloquei minha mão sobre a adaga e me virei para ver da onde vinha a voz. Era o garoto que encontrei na colina quando estava perseguindo o pobre esquilo. Sinto que fico um tanto corada, "Você deve estar muito estressada para ouvir um voz e tentar ataca-la com uma adaga", disse para mim mesma.
-Acho que um olá já é o suficiente, Dom.- Ele sorria para mim e sorrio de volta, tirando a mão de minha adaga e fazendo um gesto para que ele se sentasse ao meu lado.
-Desculpe o gesto, estou meio irritada essas últimas semanas, mas como você está? Gostando do acampamento?-Disse tentando escapar dos elogios, já que eu sentia que estava mais vermelha que o chalé de Ares. Comecei a enrolar meu cabelo entre os dedos, disfarçando meu nervosismo.

Vi um certo brilho nos olhos de Dom quando falava do acampamento. Sorri, ele estava diferente do menino que conheci na colina, agora até parecia que ele estava gostando mesmo do acampamento. Quando ele mencionou a adaga, coloquei rapidamente a adaga na areia e a deixei lá. Eu devia ter assustado ele. "Pronto, parabéns, logo ele vai sair correndo. Parabéns mesmo, Lilian." meu subconsciente fala com desgosto, e logo mandei ele ficar quieto.
-Désolé, ser uma semi-deusa está me deixando um pouco paranoica. Sinto muito se o assustei, não foi minha intenção.- Sorrio timidamente, e logo comecei a fazer desenhos na areia.-E acho que vindo para cá eu posso relaxar um pouco, adoro ouvir do som das ondas. Me traz um pouco de paz nessa rotina doida.-Balanço a cabeça, sorrindo bobamente. "Você parece uma depressiva falando," meu subconsciente falou novamente, resolvi ignora-lo.
-Mas não se preocupe, não vou matar você hoje.-Olho para ele, sorrio e volto a desenhar.

-Lily, é esse seu nome, certo?
-Lilian, na verdade. Mas pode me chamar de Lily.- Sou uma risada baixa e desenho uma carinha feliz na areia.-Você é Dominique não é? Minha mãe cantava uma música para mim que tinha seu nome.
Espero ele sentar para continuar a conversa, rindo quando ele pergunta se aquilo seria um plano para mata-lo. Coloco um dedo no queixo, fingindo que estava pensando e falo:
-Se quisesse te matar, você não estaria aqui agora.-E sorrio para ele.- Não que isso seja uma ameaça.
Ele fala que não sabe como consigo uma rotina tão agitada, "Também, acordando ás 5 da tarde não há muito o que se fazer.", ah meus deuses, subconsciente, quieto. Olhei para ele, levantando uma das sobrancelhas.
-Você nunca treinou aqui? Se for ver, há muita coisa para se fazer aqui. Treino com espadas, arco e flecha -sorrio rapidamente e volto a falar- Além de canoagem e equitação. Mas eu falo pela sua segurança, só tente equitação se não tiver medo de altura.-A lembrança de estar a mais de 9 metros do chão ainda me deixava um pouco enjoada. Eu balancei a cabeça, tentando dissipar a imagem.
-Mas você tem razão, devemos tornar nossa estada aqui agradável. Mas você devia tentar algo... Você pode até gostar, vai por mim.- Sorrio e apago meus desenhos, já que não havia mais espaço, e começo a desenhar novamente.

Enquanto estava falando, percebi um certo sorriso discreto de Dom, o que fez me sentir muito melhor. O ouvi resmungar algo como "onde foi parar o carpe diem" e me sentei de frente para ele, e fiz um coque improvisado, tentando não demonstrar nada:
-Sim claro, temos que aproveitar o momento. Mas no nosso caso, temos que saber nos virar num momento para ter um outro. Não acha?
Comecei a olhar para o bonequinho que ele havia desenhado, mas não sabia se ele estava morto, ou somente em coma. Então me inclinei e desenhei uma flor perto do bonequinho, e voltei ao meu lugar, rindo e balançando a cabeça em afirmativo, "Bem melhor".
-Bem, os cavalos daqui são um pouco bizarre, eles tem asas e não costumam ficar no chão. -Engulo em seco e continuo falando.- Como os chamam mesmo? Pégase? Pégasus! É claro, eles são lindos, mas não lido muito bem com altura...-Sorrio, disfarçando o desconforto, e olho para o horizonte, o sol estava perto de ficar na mesma linha do mar. Me pergunto como meu pai se sente quando está fazendo isso, mas deixo o pensamento sumir e volto meu olhar novamente para Dom.
-Prefiro ficar em terra, acho muito mais confortável. E como o arco e flecha é uma arma de longo alcance, posso ficar no chão e acertar um alvo no céu. Muito mais conveniente.

Dom esqueceu que ela estava meio que pegando em seu pé por ser tão desleixado com os treinos, como foi que ele não descobriu que poderia voar antes? muito provavelmente por que dormia mais do que deveria! Mas ele com certeza não ia perder a oportunidade de ver o mundo de lá de cima, e outra coisa, ela era impressionante com o arco, já o tinha demonstrado isso antes.
-Não sei se é mais interessante o fato de eu poder voar o você ser eximia arqueira, signora. Sabe que eu sempre quis ser como Robin Hood? haha. houve até epocas que achei que podia roubar dos ricos para dar aos pobres. Infelizmente os ricos não concordavam.
"Mas por que diabos eu contei isso?" O garoto ficou meio perplexo mas a boca foi mais rápida que a desconfiança dessa vez então srm saber o que fazer, desenhou uma bonequinha de palitos deitada sobre os braços do bonequinho que dormia, e nela fez olhos fechados em vez de xisinhos, mais como pequenos u's e uma boquinha sorridente para alguém que está em um abraço
-Eu não sei atirar com o arco, mas sei lançar cartas, apesar de que isso não pareça muito bom pra matar monstros... até as muletas do Jack parece mais eficientes na verdade. hahaha. Você tem mesmo rasão, eu tenho que começar a me mexer e aprender logo a me defender.

Ela fica constrangida com o comentário. Sim, era uma filha de Apollo bem experiente com um arco, mas não conseguir montar num Pégasus, animais que ela acha esplêndido, era um pequeno trauma de campista. Fora que era um pouco desastrada com outras armas, mas decidiu não falar nada a respeito disso com Dom, ainda queria que ele começasse a treinar.
-Robin Hood? Já ouvi falar... Na verdade assisti o desenho da Disney, então acho que sei a parte bonitinha da história.- Ela ri e logo seu sorriso desaparece, quando ele fala de roubar para dar para os pobres.- As vezes não existe outra alternativa. Sabe, quando cheguei nos Estados Unidos, quase não tinha dinheiro e não poderia esperar minha mãe mandar mais, e infelizmente,-ela engoliu seco,- tive que pegar algumas coisas "emprestadas", mas me senti tão culpada depois que mandei o dinheiro para cada loja. - Ela ri baixinho, e desenha uma pena de pavão na areia ao lado dos bonequinhos.
-E cartas são perigosas! Já me cortei com várias, e acho que você se daria bem com adagas. Dá para taca-las em qualquer coisa, como cartas. - Ela pega sua adaga e vira o cabo para Dom, o incentivando a pega-la.

Ela estava falando sobre roubo com um filho de Hermes, "Claro, isso foi muito inteligente" seu subconsciente sibilou, e ela revirou os olhos para ele.
-Mesmo assim, achei que foi uma atitude um tanto quanto errada. Aquilo não era meu. Sim, precisei e não faria de novo se não fosse um caso de vida ou morte.-Deu de ombros e olhou para o horizonte, mas depois voltou sua atenção para ele novamente, vendo ele se divertir com a pequena adaga.
Ele começou a joga-la para o alto e ela olhava cuidadosamente, esperando que ele não se machucasse.
-Tenha cuidado, ela está um pouco afiada. - Ele falou algo como onde devia atirar,- Só não atire em mim. - Ela riu e se levantou, limpando a areia da roupa.
-Que tal andar um pouco perto do mar? E depois me devolva minha adaga, filho de Hermes.- Ela jogou os cabelos para trás, tirou as sandálias e começou a andar na beira do mar, somente molhando os pés. Ela vira pra trás e faz sinal para que Dom a seguisse.